Menina Desaparecida, Polícia Protege Estuprador

Um jovem de 25 anos molestou violentamente a vizinha de 16, enquanto um amigo filmava o acto, alegadamente para disseminação na internet. O agressor ameaçou-a de a cortar aos bocados e a servir de comida aos cães, dizendo que se manteria impune porque o pai era oficial da Polícia Nacional. A jovem contou o sucedido aos pais e desapareceu no dia seguinte, em Luanda, já lá vão quatro meses. O Maka Angola reconstitui a história.

A 8 de Março passado, Cláudia Cipriano, de 16 anos, passou a noite a chorar. Naquele dia visitava-a a prima Celestina José e por isso partilhavam quarto. Cláudia acabaria por lhe confessar os motivos do pranto, revelando-lhe ter sido molestada pelo vizinho Nilton Santos Luís, de 25 anos, em casa dos pais deste.

Na manhã do dia seguinte, Celestina José informou os tios sobre o que ouvira. “Chamámos a nossa filha e ela contou-nos tudo”, explica o pai, acrescentando que Cláudia Cipriano lhes revelou ainda ter sido molestada por Nilton Santos Luís em três ocasiões diferentes. 

“A última vez foi no dia 8 de Março, em casa dos pais dele onde vive. Ele tapava a boca dela e batia-lhe enquanto a violava. O amigo dele filmou o acto para colocar o vídeo na internet”, revela Fernando Cipriano.

Os pais perguntaram à filha por que razão ela não havia denunciado o crime na primeira vez em que fora molestada. “O jovem disse à minha filha que se ela contasse à família ele a mataria, cortejaria o seu corpo em pedaços para dar de comer aos cães e deitaria a sua cabeça numa fossa.”

Nilton dos Santos Luís terá afirmado também, segundo o pai da vítima, que, “mesmo que a família apresentasse uma queixa sobre o caso, nada aconteceria, porque o pai é da polícia”. O pai do jovem é o superintendente Domingos Sebastião Luís, da Direcção Provincial de Investigação Criminal (DPIC).

Entre as casas das famílias da vítima e do alegado violador, situadas no Bairro do Morro Bento, a poucos passos de distância uma da outra, havia um factor de aproximação: o irmão mais velho de Cláudia é noivo da irmã mais nova de Nilton. Ambos têm um filho e tinham a cerimónia de alembamento (pedido tradicional) e de casamento marcada para o dia 15 de Julho passado. A cerimónia foi cancelada devido ao desaparecimento de Cláudia.

“Para não resolvermos as coisas com a cabeça quente, deixámos passar uma noite”, justifica o pai.

A 10 de Março, Cláudia preparou-se, como de costume, para ir à escola e saiu. Nunca mais regressou a casa, e a família nunca mais soube dela.

Na mesma noite do seu desaparecimento, Fernando Cipriano e a esposa chamaram os pais de Nilton, por sinal futuros sogros do seu filho mais velho, para os informarem sobre o caso.

“Os pais [de Nilton] disseram-nos que tinham tomado conhecimento dos actos do filho muito antes de nós”, conta o entrevistado. E acrescenta: “Os pais afirmaram terem chamado a atenção do filho para parar com os abusos. Depois disseram que o filho desapareceu de casa nesse mesmo dia [10 de Março].”

Como passo seguinte, no fim do diálogo entre as famílias, Fernando Cipriano anunciou que apresentaria uma queixa às autoridades policiais. “Os pais do Nilton encorajaram-me a avançar com a queixa, por acharem o comportamento do filho como inconcebível. O pai, Domingos Sebastião Luís, disse que estava disposto a ajudar no que fosse possível”, descreve.

A 11 de Março, Fernando Cipriano apresentou a queixa na Esquadra policial do Talatona. 

Depois da queixa, a família de Cláudia colocou anúncios na Televisão Pública de Angola (TPA), no Jornal de Angola e na Rádio Nacional de Angola, e distribuiu panfletos pelas ruas em busca de informação sobre o paradeiro da filha.

Alguns dias depois de os pais terem comunicado o seu suposto desaparecimento, Nilton dos Santos Luís regressou a casa. Inconformado com a falta de informação sobre a sua filha, Fernando Cipriano informou a polícia local sobre o paradeiro do suspeito.

Por sua vez, a 23 de Março, sob Processo nº 1404/14-SBA, o departamento da Samba, da Direcção Provincial de Investigação Criminal (DPIC), intimou Nilton dos Santos Luís a comparecer nas suas instalações, a 26 de Março, para prestar declarações.

“Eu estava na mesma sala quando o Nilton estava a ser ouvido. Ouvi um dos investigadores a ordenar ao colega que interrogava o Nilton: ‘trabalha devagar, vai com calma porque esse é filho do nosso colega’”, denuncia o pai de Cláudia.

Para estupefacção de Fernando Cipriano, Nilton dos Santos Luís “assumiu os casos de violação sexual, espancamentos e filmagem, mas afirmou que não sabia do paradeiro dela. A polícia mandou-o, em paz, para casa”.

Em Maio passado, Fernando Cipriano dirigiu-se aos pais de Nilton dos Santos Luís, pela última vez. “Disse-lhes que são cúmplices e se o filho deles matou a minha filha, então que me mostrem o corpo para eu realizar um funeral condigno”, lamenta.

Ouvido pelo Maka Angola, o superintendente Domingos Sebastião Luís declarou: “O meu filho é adulto. A informação [sobre o sucedido] é mesmo essa. Não tenho mais informações a prestar.”

Entretanto, a Associação Mãos Livres decidiu oferecer patrocínio jurídico à família da desaparecida. “É nosso entendimento que a Polícia Nacional deveria ter detido o jovem, como principal suspeito e por ter admitido o crime de estupro de uma menor”, afirma o advogado Zola Bambi, da referida associação.

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