Angola: A Potência Militar em Segunda Mão

Subtítulo: Angola tornou-se, recentemente, no principal comprador de armamento russo em África.  Apesar do seu arsenal bélico, as FAA continuam depauperadas , com falta crónica de bens básicos na maioria das unidades do exército nacional. Os contratos militares com a Rússia contratos estão avaliados em um bilião de dólares.

Segundo o jornal Vedomosti,

http://www.vedomosti.ru/politics/news/17540901/oruzhie-dlya-starogo-druga os contratos incluem o fornecimento de 18 aviões caça Sukhoi-30, assim como helicópteros de transporte Mi-17, armamento ligeiro, munições, tanques, peças de artilharia e a construção de uma fábrica de armamento em Angola.

 “Os caça Su-30 serão a base do poder de combate da Força Aérea Angolana”, indica o jornal.

Mas os aviões contemplados no contrato são caças fabricados na década de 1990, entregues à Força Aérea Indiana enquanto aguardava o fabrico dos modelos mais avançados Su-30MKI.  As aeronaves foram devolvidas à Rússia em 2007 e têm, desde então, estado confinadas numa fábrica de reparação na Bielorrússia. Inicialmente, a Rosoboronexport, empresa responsável pelas exportações de equipamentos militares russos, propôs a compra dos mesmos aviões ao Sudão e ao Vietname, que não se mostraram interessados.

A compra dos caças em segunda mão, inoperantes há vários anos, levou vários críticos a questionar as vantagens do negócio para Angola. “O governo russo e os seus líderes estão sempre dispostos a despachar os seus equipamentos obsoletos para África e, de forma surpreendente, o governo angolano aceitou este negócio”, disse Shaabani Nzori http://www.spyghana.com/surfing-russias-military-cooperation-angola/, um analista político em Moscovo.

O Estado da Força Aérea

Numa breve investigação, Maka Angola apurou que o estado actual da Força Aérea Nacional (FANA)FANA requer, antes, intervenções básicas e estruturais para resgatá-la da disfuncionalidade em que se encontra.

Em Janeiro passado, o helicóptero MI-25-35 que deveria participar no desfile do 37º aniversário da FANA, teve uma avaria ao levantar voo. A aeronave encontrava-se avariada há cerca de quatro anos e foi reparada em menos de 48 horas apenas para a comemoração do dia 21 de Janeiro, data da fundação da Força Aérea. O alto comando da FANA colocou, desse modo, em risco a vida da tripulação de forma irresponsável.

Grande parte dos acidentes com aviões e helicópteros da FANA, conforme investigações internas, têm invariavelmente como causa o estado obsoleto das aeronaves, assim como a falta de manutenção.

Em Fevereiro passado, a única viatura de transporte de oxigénio do Regimento Aéreo de caça-bombardeiros na Catumbela, em Benguela, avariou. Sem oxigênio para os caças, a base não pôde realizar voos de rotina durante algum tempo.

Todavia, o governo comprou agora mais 18 de caça-bombardeiros quando tem manifestado falta de vontade em ter duas viaturas de abastecimento de oxigênio para manter a operacionalidade dos voos na sua principal base aérea militar.

Além disso, a compra de equipamento obsoleto para a FANA, envolvendo armamento russo, tem sido um processo recorrente.

Em 2012, durante um julgamento em Londres sobre negociatas com diamantes em Angola, o traficante de armas Arkady Gaydamak, revelou como vendeu vários helicópteros em estado de sucata a Angola, no valor de US $70 milhões.

“Eu estava para desembaraçar-me deles como sucata, mas uns meses depois o Falcone disse-me que tinha conseguido um novo cliente em Angola, como resultado do seu encontro com o filho do antigo Presidente Mitterrand” (http://makaangola.org/2012/09/06/gaidamak-mandou-em-angola%C2%AD%C2%AD/).

Gaydamak explicou também que entregou os helicópteros a crédito. “Depois deste presente, o acesso ao presidente passou a ser bastante fácil tanto para mim como para o Falcone”, disse o traficante de armas.

A relação privilegiada da dupla Gaydamak-Falcone com o presidente José Eduardo dos Santos resultou no famoso escândalo Angolagate que, durante anos, esteve sob alçada da justiça francesa.  

Mais Dinheiro para o Vácuo

Como tem sido norma, a maior fatia do Orçamento Geral do Estado continua a ser atribuída ao Ministério da Defesa, incluindo o de 2013 http://makaangola.org/2013/01/21/english-a-record-budget-for-the-presidency-the-military-and-the-spooks/. Os contratos agora assinados representam cerca de 16.5 porcento do orçamento para a defesa, que tem um valor total de US $ 5.7 mil milhões.

Apesar de Angola ter o terceiro maior orçamento, em África, para a defesa, a situação real das FAA é alarmante.

Maka Angola tem conhecimento sobre os constantes apelos que chegam ao presidente José Eduardo dos Santos sobre questões básicas como a falta crónica de bens alimentares, uniformes, botas e capas de chuva para as tropas, um pouco por todo o país.

O estado deplorável da maioria das unidades militares, com condições sub-humanas de alojamento, em contraste com o enriquecimento e a luxúria aviltante de um grupo restrito de generais, também tem chegado aos ouvidos do presidente.

Até ao momento, o governo angolano não se pronunciou a sobre as notícias dos acordos militares com a Rússia. Membros do MPLA, citados pela Voz da América http://m.voaportugues.com/a/1771789.html, dizem não ter qualquer conhecimento sobre os contratos. 

 

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