Soldado Torturado por Comandante

Por Lázaro Pinduca:

O comandante da Escola Inter-Armas do Lubango, coronel Teodoro Isaac Suco “Dimuka”, mandou espancar e torturar o soldado José Gabriel Ndifenha “Tenente”. Os actos de tortura, ocorridos no dia 29 de Setembro, incluíram pendurar o jovem soldado de uma árvore por mais de 11 horas.

O episódio, que chocou a unidade militar vulgarmente conhecida como Escola de Sargentos, teve lugar após o soldado ter cumprido o seu turno de guarda na porta de armas. Depois de ter sido rendido e quando se preparava para ir para casa, o comandante chamou-o e ordenou que pintasse as árvores dentro do perímetro da unidade. Como era o seu dia de folga, o soldado “educadamente informou que tinha acabado de ser rendido da porta de armas e que estava a preparar-se para gozar a folga, facto que irritou o oficial superior”, informou um segundo sargento que não quis ser identificado.

O comandante ordenou em seguida que o soldado fosse torturado por se ter negado a cumprir a sua ordem, “mesmo depois de o chefe do pessoal ter confirmado que era o seu dia de folga. Para que não manchasse a farda [o coronel Dimuka] orientou que se lhe tirasse a mesma, ficando apenas com a calça interior. Foi amarrado nos braços e nas pernas, ficando suspenso na árvore mais frondosa da unidade”, informou um outro militar da Escola de Sargentos, que presenciou os acontecimentos.

Antes de ser amarrado, o soldado foi pontapeado e esbofeteado por colegas seus a mando do comandante. Depois de amarrado à árvore, continuou a ser espancado, desta vez com cinturadas e pauladas. O soldado permaneceu pendurado na árvore durante mais de 11 horas, desde as oito da manhã até cerca das 19h30.

A retirada do soldado “Tenente” da árvore apenas ocorreu quando chegaram à unidade agentes da Polícia Judiciária Militar (PJM). Os agentes da PJM dirigiram-se à Escola de Sargentos porque haviam recebido informação de que um soldado estava a ser torturado. O comandante ordenou então que o soldado fosse desamarrado.

Os agentes da PJ reuniram-se com o coronel Dimuka à porta fechada, no seu gabinete. Em seguida, tomaram nota dos dados de identificação do soldado, inquiriram junto deste qual a sua versão dos acontecimentos e ordenaram que comparecesse no dia seguinte nas instalações da polícia, para mais averiguações.

Com o intuito de dissuadir o jovem soldado de apresentar queixa sobre os actos de tortura de que tinha sido alvo, o comandante indicou a “Tenente” que escolhesse o que quisesse dos armazéns da unidade, ao que o soldado anuiu.

No dia seguinte, 30 de Setembro, o coronel Dimuka reuniu-se com o comandante da PJM nas instalações da polícia às 8h00. Quando o soldado se apresentou nas mesmas instalações, cerca de uma hora depois, foi-lhe dito, pelo investigador de serviço, que o seu caso estava encerrado, uma vez que se tratava de um assunto interno e de ordem disciplinar.

Segundo um soldado da unidade, não é a primeira vez, desde que o coronel Dimuka assumiu a direcção, que ocorrem episódios de tortura na Escola de Sargentos. “Tanto reclamamos mas não é sancionado, o caso cai sempre em saco roto”, lamentou o militar.

Segundo ordens do coronel Dimuka, o soldado “Tenente” está por ora dispensado do serviço, a fim de completar os tratamentos médicos aos ferimentos que lhe foram infligidos e de gozar as suas férias.

Comentários